O universo do conteúdo digital pode ser tão dinâmico e diverso quanto extremamente saturado. São muitas informações irrelevantes, conceitos repetitivos e fórmulas cansativas que, quando surge uma voz autêntica, é como uma luz no fim do túnel para os entusiastas da web — a última esperança de consumir algo genuinamente interessante na internet.
Ao longo dos meus mais de 10 anos trabalhando nesse mercado, testemunhei a ascensão e queda de inúmeras tendências, mas uma verdade permaneceu inabalável: a autenticidade do conteúdo é o que realmente perdura.
Logo quando iniciei minha jornada no marketing digital, aprendi que os consumidores anseiam por algo mais do que simples anúncios e mensagens pré-fabricadas. Eles desejam conexões reais, histórias verdadeiras e experiências que se conectem com sua essência. É natural do ser humano a necessidade de se sentir ouvido e pertencente. Mas as marcas insistem em querer oferecer perfeição, enquanto o consumidor está em busca simplesmente de atenção plena. E é aí que os conteúdos autênticos saem na frente.
Lembro até hoje de quando a Dove lançou a campanha “Beleza Real”, deixando os padrões de beleza inatingíveis de lado para falar sobre aceitação, confiança e corpos reais, algo ainda bastante raro na publicidade de 10 anos atrás. Esta campanha tornou-se viral instantaneamente e até hoje segue sendo citada como um case de marketing autêntico e impactante. A partir deste momento, fui aos poucos percebendo o efeito duradouro e a importância que um conteúdo construído à base de originalidade pode ter na maneira como nos vemos e nos relacionamos com o mundo ao nosso redor.
Atualmente, para a nossa sorte, já não é mais tão difícil encontrar as marcas que têm esse compromisso em sua comunicação digital e ser positivamente impactado. Há algumas semanas, a Dove (tenho um caso sério com essa marca) lançou uma campanha questionando os padrões de beleza das mulheres geradas através da tecnologia por inteligência artificial – cujas aparências continuam refletindo estereótipos sociais. A campanha global, chamada de “The Dove Code”, já está repercutindo bastante nas redes sociais e fomentando as discussões sobre IA.
A integração da inteligência artificial na criação de conteúdo pode parecer, à primeira vista, uma solução moderna e eficaz. No entanto, quando se trata de lidar com alguns padrões enraizados, essa abordagem pode revelar suas limitações. Se a IA baseia-se em conjuntos de dados históricos que refletem preconceitos culturais e sociais, os algoritmos podem perpetuar estereótipos de gênero, reforçando ideais inatingíveis.
Será que cabe às marcas trabalharem uma abordagem mais crítica e consciente na sua implementação ou é a própria inteligência artificial que deveria ser programada para reconhecer e mitigar vieses em conjuntos de dados, promovendo uma representação mais equitativa e inclusiva?
Além disso, a IA ainda pode ser utilizada como uma ferramenta para identificar e desafiar estereótipos de gênero existentes. Ao analisar padrões de comportamento e interações online, os algoritmos podem destacar tendências prejudiciais e oferecer insights sobre como melhor abordá-las. Isso não apenas permite que as marcas adaptem suas estratégias de marketing de acordo, mas também as capacita a desempenhar um papel ativo na promoção da igualdade de gênero e na desconstrução de estereótipos prejudiciais.
Ações como as da Dove com esse diferencial estratégico me enchem de encantamento e me revigoram em seguir atuante nessa montanha-russa que é o mercado digital. Quando as empresas se empenham em transmitir espontaneidade e integridade, as relações criadas e os vínculos tangíveis são muito maiores que uma mera propaganda comercial. Enfim, autenticidade é onde está o coração de uma boa estratégia de marketing.
*Ana Karolina Santos é social media da Moky Digital, unidade de negócio da Netza&CO
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