Recentemente, Mark Zuckerberg, cofundador da Meta, empresa controladora de Facebook, Instagram e WhatsApp, anunciou mudanças no sistema de verificação de fatores das plataformas. A repercussão negativa no Brasil gerou uma rápida ocorrência no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Alexandre de Moraes disse que as redes sociais só operam no país se estiverem de acordo com a legislação nacional e não cooperarem com a disseminação de notícias falsas.
A medida é cercada de polêmica. Enquanto parte do público apoia a decisão como uma forma de regular o ambiente digital, especialistas apontam que as consequências podem ir muito além da interrupção de memes ou interações pessoais, afetando diretamente pequenos negócios e a ecossistema de Marketing Digital, usado como principal motor de vendas e conexão com clientes.
“O uso das redes sociais hoje em dia vai muito além da interação entre as pessoas, uma decisão dessa teria o mesmo impacto que o de tirar do ar as vitrines digitais de um dia para o outro, ou seja, diversos empreendedores, muitos que dependem exclusivamente da internet após a pandemia, seriam impactados”, explica Raphael Mattos, especialista em Marketing Digital, negócios e empreendedorismo.
Impactos econômicos e profissionais
Campanhas no Instagram, vídeos explicativos no Facebook e comunidades no WhatsApp tornaram-se ferramentas cruciais para pequenos negócios, freelancers e startups. Esses grupos utilizam plataformas para competir de forma democrática com grandes empresas, fidelizar clientes e ampliar a presença no mercado.
Segundo Mattos, em caso de suspensão abrupta dessas redes haveria um efeito em muitos setores. “Profissionais como estrategistas digitais, mídias sociais, produtores de conteúdo e gestores de tráfego pago, que trabalham direta ou indiretamente com conteúdo online, seriam diretamente prejudicados”, pontua o especialista, que também é autor do livro best-seller “Vender, Lucrar, Escalar” (Editora Gente).
Para Marcos Carvalho, CEO da AM4 Brasil, uma consequência possível, por exemplo, é que essas redes virem várzea, com o tempo (ou de forma abrupta) e o mundo se reorganize digitalmente em outros espaços que as pessoas considerem mais confiáveis de interação. Outra possibilidade é que a empresa não consiga manter por muito tempo essa nova diretriz em razão de regulações a surgirem nos países em que opera.
“Qualquer destes caminhos será natural e fruto de evoluções razoáveis para uma tecnologia que mudou o mundo, mais de uma vez - e que pode muito bem ser mudada também como reação a como o mundo passa a encará-la e opta por lidar com ela”, avaliou.
“Se a plataforma vai, ou não, lutar para que seja um meio de propagação de notícias verificadas e baseadas em fatos - e portanto combater informações falsas e todas as suas manifestações - essa é uma decisão estratégica de uma empresa que é privada, que tem razões econômicas para assim estar decidindo e que vai lidar com as consequências jurídicas específicas de cada país em que esteja presente”, frisou.
Uma oportunidade para reinventar?
A possível interrupção das plataformas no Brasil acendeu um alerta sobre a dependência tecnológica e a importância de diversificar os canais de atuação. “Da crise pode surgir inovação”, avalia Mattos, que aponta alternativas como investir em SEO, explorar marketplaces, apostar no e-mail marketing e fortalecer o uso de outras redes, como YouTube e TikTok.
Ainda assim, essa transição não seria simples para todos. “Pequenos negócios, que dependem de campanhas personalizadas e recursos limitados, enfrentariam enormes desafios para migrar para canais menos acessíveis e eficazes, o que ampliaria o abismo entre grandes empresas e negócios emergentes”, analisa o especialista.
O cenário destaca a necessidade de estratégias planejadas resilientes e planejadas para mitigar os riscos de um possível pagamento digital, enquanto o país iniciava novos desdobramentos das negociações entre o STF e a Meta.
Anunciantes preocupados
Para Bruno Almeida, CEO da US Media, essa medida pode ter consequências significativas para a empresa. “Essa decisão surge em um cenário onde a responsabilidade social das plataformas digitais nunca esteve tão em evidência. Olhando para o passado, há indícios de que os anunciantes não estão confortáveis com essa falta de controle de informações”, completa, lembrando do movimento #StopHateForProfit de 2020, quando grandes marcas boicotaram a Meta em protesto contra as políticas de moderação da empresa.
Almeida aponta para o caso do X (antigo Twitter), onde a gestão de Elon Musk resultou numa perda de cerca de 50% da receita com publicidade, como exemplo dos riscos da falta de controle sobre conteúdo e a proliferação de desinformação. “Toda escolha tem uma consequência. Qual será o preço dessa decisão para a Meta?”, questiona o CEO.
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