Em Belém até o dia 21 de novembro, a COP30, conferência anual da ONU sobre clima, chega à reta final. A presença de delegações, investidores e formadores de opinião transforma a capital paraense em um centro temporário de visibilidade global, criando um ambiente em que empresas buscam se conectar ao tema climático e disputar espaço em torno de agendas socioambientais.
Este panorama, no entanto, mostra-se fortemente amarrado ao campo da teoria. Na prática, o mundo corporativo segue em silêncio. Analisando cerca de 131 mil publicações sobre o evento, a Cortex publicou um levantamento que indica que a cobertura do evento ainda opera sob a lógica política, não empresarial.
Na avaliação de Claudio Bruno, diretor de inovação da Cortex, e Natalia Rinaldi, advisor da mesma empresa, a economia aparece como uma oportunidade inexplorada, com enorme potencial. Há espaço para marcas que saibam reconectar sustentabilidade e geração de valor, transformando o discurso ambiental em ativo de competitividade.
Também faltam lideranças empresariais legitimadas. Essa lacuna abre espaço para novos especialistas e líderes corporativos se consolidarem como referência, transformando dados e práticas em narrativas de credibilidade. Empresas que apresentam dados concretos, métricas de impacto e coerência entre discurso e prática tendem a conquistar centralidade no debate climático.
Isso porque a percepção ambiental dos brasileiros se mostra dividida. Dos 17,8 mil entrevistados em uma pesquisa conduzida pela YouGov, 39% afirmam se considerar ambientalistas, incluindo 23% que "concordam quase totalmente" com a afirmação e 16% que "concordam plenamente". Em contrapartida, 26% rejeitam o rótulo, enquanto 35% adotam posição neutra.
Segundo David Eastman, diretor geral da YouGov para América Latina, esta neutralidade pode indicar justamente a fadiga diante do excesso de narrativas sobre sustentabilidade. Já a total rejeição ao rótulo reflete a possível distância entre discurso e prática cotidiana.
A COP30 representa uma oportunidade de transformar percepção ambiental em comportamento efetivo. Neste contexto, o outro lado da moeda abriga organizações que demonstram reconhecer o encontro como um ponto importante em um processo contínuo de transformação ambiental. Veja, abaixo, como algumas marcas e instituições decidiram trabalhar o awareness durante o evento:
Associação Brasileira de Embalagem (ABRE)
A Associação Brasileira de Embalagem (ABRE) participa da COP30 destacando a circularidade das embalagens como elemento central para a transição a uma economia de baixo carbono e menor desperdício. A entidade defende que inovação em design, materiais e processos produtivos é essencial para reduzir emissões e tornar os sistemas produtivos mais sustentáveis.
Para a ABRE, a realização da COP30 no Brasil representa a oportunidade de evidenciar a contribuição estratégica do setor de embalagens à sustentabilidade global, incluindo segurança alimentar, redução de emissões e integração de cadeias produtivas à economia circular.
Durante o evento, a Associação pretende aprofundar o diálogo com governos, empresas e instituições multilaterais, defendendo políticas de incentivo à inovação, reciclabilidade e descarbonização industrial. Estudos do setor indicam que a reciclagem global de embalagens plásticas poderia evitar até 40 milhões de toneladas de CO₂e por ano, enquanto o uso de papel e papelão reciclado reduz em até 74% as emissões em comparação às fibras virgens.
As iniciativas da ABRE estão alinhadas à Declaração sobre Agricultura, Sistemas Alimentares e Ação Climática, que prevê integrar toda a cadeia de produção e consumo às metas climáticas nacionais até 2025, além de fortalecer parcerias público-privadas, financiar soluções sustentáveis e valorizar o trabalho decente em todo o setor de reciclagem.

Faber-Castell
A Faber-Castell firmou parceria com a COP30 para fornecer os instrumentos de escrita utilizados por delegações, chefes de Estado, especialistas e voluntários até o fim do evento. A ação é apresentada sob o conceito “Toda mudança precisa de criatividade” e coloca a marca como responsável por canetas, marcadores, lapiseiras e EcoLápis distribuídos aos participantes.
Segundo Livia Friseira, gerente de Sustentabilidade da empresa, a iniciativa se alinha ao modelo de operação que incorpora metas de redução de emissões e práticas voltadas à economia de baixo carbono. Ela afirma que a criatividade tem papel relevante na busca por soluções para desafios socioambientais e destaca o simbolismo de ter os produtos da companhia em um encontro internacional sobre clima.
A empresa mantém histórico de atuação ligado a fontes renováveis, com destaque para o uso de madeira de reflorestamento em seus lápis. O modelo levou à implantação de parques florestais próprios em áreas degradadas no Triângulo Mineiro, garantindo fornecimento de matéria-prima e ganhos ambientais associados ao aumento de biodiversidade, remoção de gases de efeito estufa e redução de riscos socioambientais na cadeia produtiva.
Dados recentes da companhia mostram que seus mais de oito mil hectares de florestas removem, em média, 49 mil toneladas de CO2 equivalente por ano e já acumulam 1,18 milhão de toneladas de carbono estocado no solo. O manejo também contribui para a conservação do cerrado, com registros de 722 espécies de fauna e flora nas áreas florestais, número que vem crescendo desde a década de 1990.
A empresa recebeu, em 2025, o Selo Ouro do Programa Brasileiro GHG Protocol pelo inventário de emissões de suas operações. No campo de produtos e embalagens, a marca afirma ter alcançado 95% de embalagens feitas com papel cartão certificado ou materiais renováveis e reciclados, além de registrar avanços em energia, água, CO2 e redução de plásticos, de acordo com seu último relatório de sustentabilidade.

Natura
A Natura organizou uma série de ativações em Belém durante a COP30, incluindo a distribuição de amostras da Polpa para o Corpo Ekos Andiroba em hotéis, restaurantes e em voos com destino à capital paraense. A ação aproveita a circulação ampliada de visitantes durante a conferência. As entregas começaram nesta semana em locais como Casa Nata, Casa Igá e unidades das redes Ibis e Mercure, além de determinados voos operados por Azul e Gol.
O produto, conhecido por aliviar a sensação de cansaço, é formulado com óleo bruto de andiroba, bioativo amazônico utilizado pela marca na linha Ekos. A família de itens inclui ainda óleo trifásico, fluido de massagem, esfoliante térmico e sabonete massageador, todos com foco em bem-estar corporal.
A empresa também conduz, em parceria com a Prefeitura de Belém, uma ação de proteção solar até 20 de novembro. Promotores distribuídos em pontos de grande movimento oferecem aplicação gratuita de produtos da linha Natura Solar para rosto e corpo. As atividades estão previstas para a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, Porto Futuro II, Praça Waldemar Henrique, Praça Dorothy Stang e, nos dias 15 e 16, para restaurantes da Ilha do Combu, como Amazon River e Flor do Combu.

Seguros Unimed
Durante a COP30, a Seguros Unimed formalizou o apoio ao Programa de Patrocínio e Monitoramento de RPPN, iniciativa voltada à compensação anual de mais de 500 toneladas de CO₂. O compromisso tem duração prevista de três anos e é realizado em parceria com a Fundação Biodiversitas e a startup 6BIOS, responsável por monitoramento ambiental via satélite e verificação independente reconhecida por entidade internacional de acreditação.
O projeto integra o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que regula a gestão das áreas protegidas no país. A RPPN é uma categoria privada de conservação que permite a participação voluntária de empresas e cidadãos na proteção de ecossistemas. Segundo Helton Freitas, presidente da Seguros Unimed, a iniciativa tem caráter replicável e pode ser adotada por outras organizações interessadas em integrar ações de preservação à agenda climática.
A parceria reforça o envolvimento da seguradora em projetos ambientais, iniciado em 2019 com o apoio a quatro reservas permanentes administradas pela Fundação Biodiversitas: Mata do Sossego, Mata do Passarinho, Ninho da Tartaruga e Estação Biológica de Canudos. As áreas abrigam espécies ameaçadas e desempenham papel relevante na recuperação de ecossistemas. Entre os programas apoiados está o voltado à arara-azul-de-lear, cuja população passou de cerca de 60 indivíduos nos anos 1990 para aproximadamente 2,5 mil, segundo o censo mais recente.
A colaboração também envolve a proteção do entufado-baiano e de mais de 300 espécies registradas na Mata do Passarinho, um dos remanescentes florestais do Vale do Jequitinhonha. No caso da seguradora, as emissões monitoradas incluem deslocamentos de colaboradores, transporte de serviços, cadeia de valor, resíduos e uso de veículos operacionais.

TikTok
O TikTok iniciou a campanha “Refloresta com Gil”, desenvolvida em parceria com Gilberto Gil. A ação convida usuários da plataforma a publicar vídeos que contribuirão para o plantio de árvores em diferentes biomas do país. A iniciativa fica no ar até 21 de novembro.
Para participar, os usuários devem publicar vídeos utilizando o áudio oficial da campanha, que reúne a narração de Gilberto Gil e a base instrumental da música “Refloresta”. O conteúdo deve mostrar hábitos cotidianos relacionados à alimentação ou à rotina que tenham impacto positivo no meio ambiente. As postagens precisam incluir as hashtags indicadas pela plataforma e podem ser produzidas com um modelo disponibilizado no CapCut.
Handemba Mutana, diretor de Responsabilidade Social do TikTok no Brasil, afirma que a estratégia busca aproveitar a visibilidade da COP para estimular a mobilização na plataforma e gerar adesão a ações de reflorestamento. Cada vídeo contabilizado será considerado na meta proposta para a campanha.
O TikTok prevê o plantio de até um milhão de árvores em diferentes biomas. A empresa mantém iniciativas anteriores na Mata Atlântica, com o Instituto Terra, e na Amazônia, com o Idesam. Também tem parcerias com IPAM Amazônia, Solidaridad, VerdeNovo e Fundação Neotrópica para ações de restauração no bioma amazônico, no Cerrado e no Pantanal.
Como parte da programação da campanha, um grupo de criadores brasileiros e estrangeiros participará de uma conversa com Gilberto Gil no dia 13 de novembro, em Belém, com foco em sustentabilidade e engajamento da comunidade da plataforma.
A colaboração entre TikTok e Gilberto Gil começou em 2021, em iniciativa que resultou no plantio de 40 mil árvores. Desde então, a empresa realizou outras campanhas, incluindo a #ReflorestaAmazônia e a #UmaSóTerra, esta última com mais de 140 mil vídeos publicados e 1,2 bilhão de visualizações. No total, a plataforma contabiliza 247 mil árvores plantadas nos últimos quatro anos.

Vibra
A Vibra leva ao evento a Loja de Inconveniência. A ideia é apresentar uma experiência voltada à reflexão sobre violência sexual contra crianças e adolescentes. O espaço substitui produtos de consumo por informações e dados sobre o tema, incluindo instruções de denúncia pelo Disque 100.
A instalação foi lançada em março de 2025 e já passou por eventos como Web Summit, Festival Rede Mulheres Empreendedoras e 16º LASE, atingindo mais de 10 mil pessoas. O projeto busca transformar dados em conscientização e engajamento social.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024, oito crianças ou adolescentes são vítimas de exploração sexual a cada hora, e apenas 8,5% dos casos são formalmente denunciados, conforme levantamento do IPEA em 2023. A Polícia Rodoviária Federal identificou mais de 17 mil pontos vulneráveis em rodovias federais entre 2023 e 2024.
A ação da Vibra integra o Movimento Violência Sexual Zero, iniciativa que reúne empresas e organizações da sociedade civil, como Grupo Mulheres do Brasil, Childhood Brasil e Instituto Liberta.
Criado em março de 2025, o movimento atua em rede para disseminar informações, sensibilizar lideranças e estimular práticas de proteção em ambientes corporativos e comunitários. Até o momento, cerca de 200 organizações participam da iniciativa.

Ypê
A Ypê marca os 75 anos da empresa com uma iniciativa que conecta consumo e regeneração ambiental em um momento em que a COP30 amplia o foco global sobre clima e uso responsável dos recursos naturais. A marca lança a campanha “Plante o futuro com a gente”, que prevê o plantio de uma árvore a cada Amaciante Concentrado Green Ypê vendido, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica.
A estratégia busca aproximar o público da ideia de impacto ambiental mensurável. O filme da campanha usa telas bipartidas entre cenas da natureza e produtos da marca para reforçar a lógica de escolha e consequência. A veiculação ocorre entre 6 de novembro e 10 de dezembro de 2025, incluindo inserções na Globo e no SBT, além de presença em canais digitais, imprensa e no Domingão com Huck.
Reconhecida pela Folha de S.Paulo como Top of Mind em Preservação do Meio Ambiente por 18 anos consecutivos, a Ypê aposta na COP30 para reposicionar sua trajetória de sustentabilidade como parte central da estratégia de negócio e de sua comunicação com o consumidor.
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