Nas últimas décadas, o varejo acreditou que o aumento das vendas seria a solução para resolver os problemas de caixa e rentabilidade. Esse tempo, infelizmente, ficou no passado. As vendas dificilmente terão um crescimento exponencial. Ao menos, no curto e médio prazo.
O Índice de Confiança do Consumidor, medido pela Ipsos em 29 países, registrou uma leve recuperação no Brasil em julho de 2024. Após quatro meses consecutivos de queda, o indicador brasileiro subiu 0,6 pontos, alcançando 52,3 pontos. Entretanto, apesar dessa alta recente, o índice do país acumula uma queda de 6,3 pontos nos últimos 12 meses, sendo a terceira pior média entre as 29 nações pesquisadas, superando apenas a Turquia (-6,8) e Peru (-7,8), que também registram as piores porcentagens no ranking geral.
O consumidor está cada vez mais consciente, informado e exigente, além de mais cauteloso com o consumo, pensando no comprometimento da sua renda, juros altos, instabilidade econômica, entre outros fatores.
Na saúde financeira, os varejistas também enfrentam um cenário bem desafiador. O crédito está mais restrito e o episódio da Americanas, ícone entre as grandes redes de varejo, hoje em recuperação judicial, contaminou a percepção de inúmeras outras operações ainda saudáveis.
Mundialmente não é diferente, há muita insegurança no ar. Kate Ancketill, da Consultoria GDR, é enfática em sua provocação: chegamos ao fim da era da abundância. Os grandes vilões seriam os 3 C's: COVID, Clima e Conflitos. Com isso, o consumo global colocou o seu pé no freio e dirige com muito mais cuidado pelas estradas pós-pandemia.
Inovação no horizonte: um caminho para enfrentar desafios
O que fazer diante desse horizonte nebuloso? A verdade é que o bom e velho manual do varejo ainda se aplica: buscar maior produtividade, estoques mais enxutos, margens melhores – tudo para não perder de vista a lucratividade. Em resumo, é preciso colocar em prática o "fazer mais com menos".
Uma boa notícia é que hoje se pode contar com um aliado importante. A Inteligência Artificial (IA), quando aplicada de forma adequada ao varejo, efetivamente traz resultados. Esses, chegam na forma de aumento da produtividade, melhor gestão e compreensão dos dados.
O impacto da IA no varejo: exemplos de sucesso
A IA, inclusive, não está presente só na gestão de dados e personalização, mas sim, favorecendo uma melhor experiência do usuário e a outra boa notícia é que ela veio para ficar. É na retaguarda que ela reina e produz os maiores resultados. Varejistas têm conseguido reduzir, em média, 30% do tamanho do seu estoque e usar os recursos – antes imobilizados - para financiar a expansão e dobrar as margens líquidas.
Outro ícone do varejo de moda, a Calvin Klein, no Brasil, otimizou a gestão de inventário com inteligência artificial e recursos de big data graças a uma estratégia de gestão de estoque que opera a partir do histórico da movimentação e realiza o monitoramento contínuo e diário dos itens disponíveis em cada loja, observando sempre o retorno do investimento.
Os seus pontos de venda já não precisam ter tantos produtos nas prateleiras, pois seus gestores sabem, de antemão, exatamente quais itens cada loja realmente precisa, e garantem, ainda, a experiência que o cliente busca no chão da loja. Milhares de itens de coleções passadas que nunca foram sucesso diante dos consumidores ficam no seu devido lugar e não voltam a ser trazidos em estoque. A ruptura ou falta do produto na prateleira, ficou para trás, sendo reduzida a níveis irrisórios.
Moral da história: o cenário atual, ainda que desafiador, traz grandes oportunidades. Passou da hora de abraçar a inovação sem medo, para garantir operações mais saudáveis e resilientes. O velho manual do varejo ainda pode ser levado como uma verdade e, se integrado a novas tecnologias, torna-se ainda mais efetivo.
*Renato Mussacredi é especialista em negócios, Head de Vendas e Marketing da Onebeat, com mais de 20 anos de experiência impulsionando grandes corporações a atingirem suas metas e expandirem seu alcance.
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