Muitos dos grandes eventos que conhecemos hoje começaram com porte e estrutura menores e tiveram que se adaptar para crescer e conseguir atingir novos públicos e novas possibilidades. Nesse contexto, fica a dúvida de como não perder a essência mesmo diante das transformações, como por exemplo, a entrada de novos patrocinadores e mudanças no formato, fazendo com que a ocasião ganhe mais visibilidade. Por esta razão, é importante que, antes de tudo, a identidade esteja bem estabelecida. Sabe quando vemos uma foto e sabemos exatamente de que evento se trata, mesmo sem nunca termos participado? É disso que precisamos. A identidade e as sensações que um determinado acontecimento proporciona precisam ficar marcadas na mente das pessoas. Portanto, é preciso definir com antecedência como a marca quer ser percebida e começar a agir em torno dessa ideia. Com a identidade definida, é hora de disseminá-la a cada edição de forma coerente e bem planejada, se adaptando às novidades, porém sem perder as características que levaram o sucesso do encontro. Isso só é possível com uma equipe bem treinada e um bom planejamento.Farofa chique?Um caso famoso que pudemos acompanhar recentemente foi a “Farofa da Gkay”. O evento foi criado para celebrar o aniversário da influenciadora digital Gessica Kayane, mais conhecida como Gkay. O encontro, que tem a duração de três dias, conta com a presença de aproximadamente 500 pessoas e chama a atenção tanto pelos preparativos como pela lista de convidados. Os seguidores da comediante esperam ansiosos por este momento, pois aguardam pelas fofocas das celebridades e os demais acontecimentos da celebração, que chega a custar alguns milhões de reais, como a própria influenciadora declarou. Gkay criou o formato como uma resposta aos eventos refinados de celebridades brasileiras. Queria algo mais popular para a comemoração de seu aniversário e propôs a realização da Farofa. A última edição, de 2022, contou com grandes patrocinadores, além da transmissão ao vivo dos shows pelo Globoplay e Multishow. Tudo parecia acontecer conforme o planejado e a festa dava ares de ser mais um sucesso na carreira da influenciadora. A visibilidade gerada nos encontros fez com que muitas marcas vissem ali uma oportunidade para divulgar seus produtos e realizar ações publicitárias. No entanto, justamente pelo fato de haver o patrocínio de grandes empresas, a festa perdeu o aspecto de evento popular, gerando até comentários de que em 2022 a Farofa estaria com uma aura luxuosa. Quem acompanhou o evento nas redes sociais contou que a transmissão ao vivo e os patrocínios deixaram os convidados engessados e com medo do cancelamento. Tudo isso pode ter afetado a identidade do evento, que não fez jus às expectativas das redes sociais, gerando até dúvidas sobre a possibilidade de uma nova edição ou mudanças de formato em 2023.Para servir de inspiraçãoJá um case bem-sucedido é o festival Coachella. Mesmo com cada vez mais repercussão e patrocinadores, o festival de Música e Artes da Califórnia consegue manter uma identidade que mescla as experiências musicais e artísticas em um mesmo ambiente. Ele consegue incorporar as ativações de marca e ainda manter o mood do festival, sem deixar de ser um ambiente jovem, moderno e diferenciado. Sempre aumentando o número de pessoas que desejam viver a experiência.Posto isso, mais do que apenas unir várias marcas no patrocínio, é preciso que os eventos e essas empresas trabalhem em conjunto para oferecer experiências que façam sentido para o público e combinem com as características do encontro.Todos os pontos devem ser levados em consideração, desde patrocínios até a possibilidade de uma transmissão. Cada opção precisa ser bem analisada, para entender como certas ações irão afetar o funcionamento do evento e a relação do público com ele. Lembre-se sempre do que faz o evento X ser o evento X, não o evento Y. O seu alicerce deve ser a identidade e a essência que deseja transmitir. *Deza Abdanur - Arquiteta, apaixonada por design, cinema e artes transformou seu senso estético em um grande diferencial para o mercado de cenografia para eventos corporativos e virtuais, segmento em que atua há 15 anos. É sócia-fundadora do Studio Panda e sócia da Guilt.
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