O SXSW foi, é e espero que sempre seja aquele evento em que você chega com perguntas e sai com ainda mais. No dia 9, completei três dias aqui no Texas, imerso em discussões sobre tecnologia, negócios, comportamento, conexão e cultura. Qual a certeza que tenho até agora? As respostas que eu planejei encontrar ainda não apareceram. Mas talvez seja essa a mágica: mais do que respostas óbvias, estou fazendo o exercício de refinar as perguntas certas. E essa sensação é a que me faz atravessar 8.000 km todos os anos para estar aqui no SXSW.
Muita gente veio para Austin apostando que a bala de prata da inteligência artificial sairia das grandes palestras ministradas no gigantesco centro de convenções da cidade. Eu também vim com a IA no radar, mas ao chegar aqui, tentei escapar das conversas e palestras óbvias. E não é que IA não seja essencial para meu negócio – é que ela já está em tudo. Mas, é por isso mesmo que não faz sentido olhar para ela como um ser isolado e único. Ela já não é o futuro, é o presente (esta é minha frase clichê favorita). A pergunta que eu estou tentando fazer aqui estes dias e farei mais nos próximos é: o que estamos fazendo com ela?

Com esta pergunta em mente – em que tecnologia não é necessariamente o assunto principal, mas o elemento que muda o jogo – procurei ouvir mais sobre esportes e entretenimento, equidade na saúde, mercado de luxo e design (primo da tecnologia, eu sei). E para cada um desses segmentos, fiquei com algumas perguntas que eu espero que sejam certas – até agora. Vou compartilhar meus insights e perguntas a seguir.
Quando ouvi as incríveis Dr. Bayo Curry-Winchell, Tina Aswani Omprakash e Rajni Dronamraju falarem sobre equidade na saúde, ficou mais claro para mim que inovação de verdade não é só criar algoritmos mais precisos, e sim garantir que eles funcionem para todos. Se podemos personalizar tratamentos, por que ainda há populações inteiras sendo não atendidas na pesquisa médica?
Quando falamos de esportes e entretenimento, em um mundo onde assistir a um grande jogo no sofá já parece uma superprodução, o que faz alguém sair de casa, enfrentar trânsito e pagar caro para ver seu time? Aqui, vou tentar arriscar uma resposta: experiência. E experiência boa não acontece do nada: ela é projetada. Desde o uso de biometrias para acabar com filas até imersões virtuais que fazem do estádio um espetáculo próprio. Ouvindo o Christian Lau, CTO do Los Angeles Footbal Club e Kat Frederick, CMO do Los Angeles Rams, percebe-se que alguns integrantes do mercado entenderam que o desafio não é só vender ingressos, mas criar uma conexão emocional.

Em um dos momentos, entrei no design digital, em um painel muito interessante com a Katie Dill, Head of Design do Stripe. A provocação aqui é outra: se a IA está democratizando o processo criativo, será que estamos ganhando mais inovação ou apenas escalando interfaces genéricas? A certeza que eu já tenho é que a IA não está substituindo designers, mas está mudando o que significa ser um. E este novo designer é uma espécie de mantenedor da autenticidade de uma marca, produto, interface ou qualquer outra produção.
Há uma indústria que entendeu isso melhor que ninguém: o luxo. Este foi o meu painel mais inesperado – entrei de passagem e fiquei. Gordon Djogasevic, da Louis Vuitton, deixou claro que inovação no luxo nunca foi sobre seguir tendências, e sim sobre criar novos formatos de desejo e pertencimento. A marca Louis Vuitton, criado em 1854, não usa blockchain porque está na moda, mas porque resolve um problema real de autenticidade. Ela não aposta em realidade virtual por hype, mas porque permite contar uma história de um jeito mais profundo e cativante. Seria o digital um novo território onde o luxo evolui sem perder essência?

Olhando para tudo isso, uma coisa fica clara: a grande tendência do SXSW não é uma tecnologia específica, mas um jeito diferente de pensar e conectar assuntos. Ouvi isso aqui também do meu amigo Diego Aristides, CEO do The Collab.
Inovação real não vem da ferramenta que você usa, mas das perguntas que você faz. A IA pode acelerar o design, mas quem define o que é agradável aos olhos? Ela também prevê padrões de comportamento, mas quem decide o que fazer com estes dados? Pode transformar qualquer negócio, mas sem uma visão clara, ela só gera mais do mesmo (já falei disso no passado, clichê também).
E a provocação mais interessante é que o festival ainda não acabou. Se três dias já serviram para mexer nas minhas certezas, ainda há quatro pela frente para desafiar tudo isso de novo.
O SXSW não é sobre respostas prontas – é sobre sair daqui com um olhar mais afiado para enxergar o futuro. E, até agora, a única coisa que sei com certeza é que esse futuro não vai se construir sozinho.
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