O show de Lady Gaga no Brasil levou 2,1 milhões de pessoas para as areias da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, sendo um espetáculo ainda maior do que o apresentado por Madonna, no ano passado. Ao analisarmos o público que estava presente, podemos pensar que tratavam-se dos Millennials, da Geração X e até dos Baby boomers, quando na verdade, uma grande parcela da Geração Z, pessoas de 15 a 29 anos, é fã da cantora.
E por que será que a Geração Z também se interessa tanto pela artista, sendo que a parte mais nova (a Young GenZ) ainda era criança ou adolescente quando ela começou a fazer sucesso? Lady Gaga é multi-talentos e já deixou bem claro que consegue se comunicar com diferentes gerações, a partir do momento em que está presente em diversas áreas, do canto à atuação e da composição até o fashionismo, entregando trabalhos de qualidade e sempre surpreendendo.
Por essa razão, em um mundo onde as tendências são perecíveis, a GenZ acaba sendo impactada pela artista, já que não está disposta a deixar alguém tão icônico passar batido. Resolvi elencar três pontos que levam esse público a continuar apreciando a genialidade atemporal de Lady Gaga e que também podem servir de lição para as marcas que querem conseguir comunicar de forma assertiva com as novas gerações:
1. Autenticidade
Desde muito cedo em sua carreira, Gaga nunca hesitou em correr o risco de ser quem é, não tendo medo de expor seus pensamentos e posicionamentos diante de diversas questões. Suas respostas a perguntas machistas e homofóbicas em entrevistas sempre se mostraram à frente do seu tempo, provocando discussões importantes e firmando seu apoio a comunidade LGBTQIAP+ e a liberdade sexual feminina.
Esse empoderamento não a blindou de todos os perigos que uma indústria dominada por homens pode causar a uma mulher, especialmente quando esta tem coragem de se impor. Mas Lady Gaga não desiste e busca refletir seus valores em atitudes: ela faria uma turnê com Kanye West, mas a parceria foi cancelada após o episódio do VMA em 2009 em que o cantor invadiu o palco e tomou o microfone de Taylor Swift, na época com 19 anos e começando a carreira, para afirmar que Beyoncé tinha um vídeo melhor.
Para além de respostas marcantes em entrevistas, a artista fundou a Born This Way Foundation, organização cuja missão é capacitar e inspirar jovens a construir um mundo mais gentil e corajoso que apoie a saúde mental. Uma de suas iniciativas, o Kindness in Community Fund, distribuiu até o momento, US$ 5.000.000, apoiando 260 organizações em mais de 10 países.
Para a GenZ, autenticidade é ação. Dados da pesquisa “Quem influencia a Geração Z?”, do InstitutoZ da Trope (consultoria de Geração Z e Alpha, da qual sou fundador) em parceria com a YOUPIX, apontam que essa geração considera muito a autenticidade, inclusive para consumir conteúdos de influenciadores, por exemplo. Então ver que a Gaga não desiste e luta pelo que acredita, apesar do mercado ir na direção contrária, é um dos fatores que faz com que seja considerada autêntica pelos nativos digitais.

2. Surpresa
Sejamos bem sinceros: o dia em que a Lady Gaga entregar exatamente o que o público espera, provavelmente terá alguma coisa errada no meio do caminho. E por que estou dizendo isso? A cantora começou sua carreira com looks chocantes, com o inesquecível vestido de carne usado durante o VMA de 2010. Porém, quando isso ameaçou saturar, ela causou outro impacto usando apenas looks básicos e clássicos.
Depois dessa questão envolvendo as roupas que usava, as pessoas chegaram a pensar que a artista não poderia mais surpreender. Então ela iniciou a sua carreira de atriz em ‘Nasce uma Estrela’, enquanto lançava ‘Shallow’ e ‘Always Remember Us This Way’, ganhando assim um Oscar, um BAFTA Award, um Golden Globe Award e um Grammy, sendo a primeira mulher a realizar esse combo em um único ano.
Depois de ter uma série de vitórias como atriz, resolveu deixar a atuação um pouco de lado e lançar o ‘Chromatica’, álbum que divide opiniões do público sobre ser marcante ou não. E, finalmente, quando os fãs começaram a sentir falta daquilo que chamam de “Gaga do Velho Testamento”, receberam o álbum ‘Mayhem’, lançado em março de 2025, com dark pop, coreografias, looks ousados e clipes carregados de referências.
O fator surpresa é cada vez mais relevante, à medida que a inteligência artificial melhora na curadoria de experiências. A GenZ tende a resistir à certeza algorítmica, buscando momentos de espontaneidade em um mundo cada vez mais otimizado. Sim, as capacidades preditivas oferecem conveniência, mas isso tem um custo. No fundo, essa geração anseia ser surpreendida e a Gaga oferece isso de forma impecável.

3. Auto expressão corajosa
Os looks e maquiagens grandiosos, ousados e carregados de semiótica são uma fonte de inspiração para uma geração que vai na contramão dos Millennials, que são muito mais adeptos do minimalismo. O maximalismo é melhor amigo da Geração Z, não só como uma forma de fantasiar uma vida adulta em um mundo em crise, mas também como forma de se expressar e preencher a rotina com prazeres fora das telas. Dados apontam que conteúdos com maximalismo tiveram 10 vezes mais engajamentos em 2025 do que no mesmo período em 2024.
A saturação do mercado de maquiagens e a democratização ao acesso de produtos e ao conhecimento técnico permite que essa geração explore de maneira artística, as possibilidades de maquiagem. Dados da pesquisa do InstitutoZ da Trope em parceria com a YOUPIX, apontam que mais de 80% da GenZ já seguiu trends de beleza. E Lady Gaga serve de referência nessa exploração e quebra de padrões estéticos arraigados no prazer masculino e nos padrões de feminilidade historicamente cultivados. O estranho e o grotesco se fundem com brilho e pompa, e o supérfluo se funde com o essencial.
Esse jogo entre o exagero e a quebra de padrões foi um dos pontos centrais do painel Dada for Dada: The Power of Absurdity, que assisti presencialmente no evento SXSW nos EUA, onde os palestrantes discutiram como a criatividade e o absurdo podem desafiar convenções e construir novas formas de expressão. Assim como marcas como Meow Wolf e Liquid Death usam o inesperado para capturar atenção e criar identidade, a Geração Z se apropria do maximalismo para subverter padrões estéticos.
Por debaixo de tanta informação visual, o que essa geração realmente absorve de Lady Gaga é que é possível e aceitável ser o que desejam, incluindo incongruências e partes feias. Nas palavras da Lady Gaga: “Uma das coisas pelas quais provavelmente fui julgada na minha carreira foi por não me prender a uma única coisa. Mas não me prender a uma única coisa é minha força vital”.
E parando para refletir, essa frase da Gaga é 100% a definição da GenZ, pois representa a mutabilidade dos nativos digitais. É o famoso “Esse tweet tem data de validade”, já que para a Geração Z, a opinião tem data de validade, visto que podem concordar com um determinado assunto hoje e passarem a discordar sobre o mesmo assunto no dia seguinte, sem serem julgados por isso, pois é um processo que faz parte de quem são.
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