Avaliada em mais de US$ 390 bilhões, a indústria global da publicidade estaria sustentando um modelo de consumo que, em vez de apenas estimular vendas, agrava a degradação ambiental e o desequilíbrio social. É o que defende o publicitário sul-africano Sylvester Chauke, voz por trás da palestra “E se a publicidade fosse honesta?”.
Há um contraste entre o poder criativo que encanta os consumidores e a prática de incentivá-los a adquirir produtos de que não precisam. Para sobreviver, agências de publicidade dependem de promover consumo em escala, lógica que estaria “empurrando o mundo para o colapso ecológico”.
“Vender mais é o objetivo que sustenta a engrenagem, ainda que a consequência seja o excesso e a pressão sobre recursos naturais. Nosso trabalho diário é convencer as pessoas a comprar, comprar e comprar”, reconheceu o palestrante.

O “Esquadrão da Honestidade”
A proposta apresentada para reverter esse quadro é a criação do “Esquadrão da Honestidade”, uma forma de atuação em que campanhas seriam avaliadas também sob critérios ambientais. O princípio é simples: se a publicidade conseguiu estimular a compra excessiva, pode igualmente orientar hábitos mais responsáveis.
A ideia inclui, por exemplo, a promoção de hambúrgueres vegetais como alternativa à carne, o incentivo a doação de roupas antigas ao anunciar novas coleções de jeans, ou questionamentos diretos dirigidos às promoções que estimulam compras desnecessárias.
A iniciativa vai além das mudanças comunicacionais. Para Chauke, é preciso alterar a própria lógica de reconhecimento do setor, premiando campanhas que reduzam desperdício e fortaleçam práticas sustentáveis, como o case da Ikea na Noruega.

“Somente na Noruega, mais de três milhões de móveis são jogados fora a cada ano. Para lidar com esse problema, a Ikea decidiu coletar todos os móveis antigos e realmente vendê-los, explicando os motivos pelos quais eles foram descartados – separações, divórcios, entre outros. O que a marca fez foi efetivamente pegar os móveis antigos e revendê-los para novos clientes em suas lojas. Quão legal é isso?”, disse.
Embora admita que a proposta sofra resistência, o palestrante lembrou que transformações radicais já ocorreram em outras épocas, como no fim da publicidade de cigarros. “Mudar é possível. Temos o dom da influência. Agora, precisamos ser honestos sobre o impacto do que fazemos”, concluiu Chauke.
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