Desde a última quinta-feira (19), repercutem na internet as declarações machistas dadas por Tallis Gomes, ex-CEO da G4 Educação. Na ocasião, o empresário listou, entre outras coisas, as razões pelas quais acreditava que a cadeira de CEO em grandes empresas não é compatível com o “melhor uso da energia feminina”.
O peso da crítica pública em resposta às declarações levou Gomes a renunciar aos cargos de presidente do Conselho e CEO da G4 – ironicamente, agora ocupado por Maria Isabel Antonini, sócia e antiga CFO da companhia.
Após a repercussão, Tallis voltou às redes sociais para pedir desculpas às mulheres e reconhecer o equívoco. Equívoco, aliás, foi um termo comum utilizado por mulheres que ocupam o cargo de CEO em resposta às declarações.
Opiniões de mulheres em cargos de liderança
Para Adriana Campos, CEO da Adtail, a grande falha de Tallis está em pensar que o sucesso empresarial exige a exclusão de outras dimensões da vida. No post original, o empresário escreveu que mulheres em posição de liderança acabariam colocando o lar, o cônjuge e os filhos em planos inferiores de atenção.
Adriana ressaltou que, ao contrário do que parece acreditar o ex-CEO da G4, seu papel como mãe e esposa faz dela uma CEO mais completa, pois lhe ensina a equilibrar demandas, priorizar com sabedoria e enxergar as necessidades dos outros, seja na equipe ou em clientes.
Já Andréa Migliori, CEO da Workhub, reforçou que posicionamento é um risco que vai além da reputação: é uma questão de relevância futura. Aqueles que falham em perceber o valor das mulheres em posições de liderança, falham também em reconhecer o valor do próprio futuro da empresa.
A executiva pontuou que é preocupante observar como algumas empresas permanecem atreladas a líderes que insistem em adotar uma visão tão limitada e antiquada sobre o papel das mulheres no mercado, destacando que esta característica não se trata apenas de um posicionamento individual equivocado, mas de uma escolha corporativa que traz consigo implicações muito mais profundas.
Seguindo uma linha crítica semelhante, Fernanda Cunha Lima, CEO da agência de Marketing digital Kipiai, reforçou que a ideia de que mulheres são inadequadas para cargos de liderança é profundamente equivocada. Ela destacou que a tarefa de liderar uma empresa não é uma questão de gênero, mas de competência e visão estratégica.
Sub-representação nas cadeiras de CEO
Atualmente, apenas 5% das posições de CEO no Brasil são ocupadas por mulheres (um aumento de apenas 1% em relação a 2023), segundo a Vila Nova Partners, que mapeou 83 empresas com ações listadas na B3.
O quadro não é diferente no panorama global: uma pesquisa da consultoria Deloitte aponta que apenas 6% dos CEOs globais são mulheres, com um aumento de 1% em relação ao levantamento feito em 2022.
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