O Brasil avança de forma acelerada na adoção de tecnologias de inteligência artificial e integração de sistemas, mas ainda enfrenta um paradoxo que compromete a efetividade da transformação digital. Embora 87% das empresas afirmem ter sistemas majoritariamente ou totalmente integrados, 81% dos profissionais continuam recorrendo a ferramentas paralelas para gerenciar dados de clientes.
Os dados compõem o estudo “Panorama de Dados 2025”, realizado pela HubSpot no país. A pesquisa mostra que 94% das empresas já utilizam (45%) ou estão explorando (49%) ferramentas de inteligência artificial, e 73% das que adotaram a tecnologia consideram seus resultados altamente precisos.
Apesar da alta taxa de uso, a maturidade no emprego dessas ferramentas ainda é limitada. A falta de expertise interna foi apontada por 57% dos respondentes como o principal obstáculo para extrair valor da IA, seguida por preocupações regulatórias e éticas (52%). Além disso, 36,5% das organizações brasileiras admitem o uso de soluções não aprovadas oficialmente — fenômeno conhecido como “shadow AI”.
Segundo Camilo Clavijo, vice-presidente de Vendas da HubSpot na América Latina, o desafio do país não está na adoção, mas no domínio da tecnologia. “O Brasil não tem um problema de adoção de tecnologia ou de IA, mas sim de experiência com o uso de ferramentas de IA. A tecnologia já está presente na maioria absoluta das empresas, mas o mercado ainda precisa de profissionais qualificados e de gestão cuidadosa para o uso coerente das ferramentas.

O paradoxo: integração técnica versus comportamento real
Os resultados da pesquisa apontam uma contradição estrutural. Embora 87% das empresas descrevam seus sistemas como integrados e 79% afirmem operar com um painel de comando conectado e informativo, a prática mostra o oposto.
O estudo indica que 81% dos profissionais utilizam ferramentas fora dos sistemas oficiais para gerenciar dados, 63,5% já enfrentaram atrasos ou erros causados por informações conflitantes e 82,5% dedicam mais de uma hora por semana apenas à limpeza e reconciliação de dados. Quase metade (45%) acredita perder oportunidades de negócio devido à falta de visibilidade sobre as informações.
Apesar dos impasses, para 68% dos líderes entrevistados, decisões estratégicas são fortemente guiadas por informações confiáveis, superando a intuição ou a experiência pessoal. A confiança nos sistemas também cresce: 69,5% confiam integralmente em dashboards e relatórios, 63% possuem painéis que refletem em tempo real o comportamento dos clientes e 62% afirmam conseguir oferecer experiências personalizadas baseadas em dados. Já 59,5% dizem ter integração completa entre as áreas de Marketing, Vendas e Atendimento.
O fator humano aparece como o principal entrave à consolidação dessa transformação. Entre as maiores barreiras à adoção de sistemas modernos estão a complexidade das ferramentas (69%), a resistência interna à mudança (58%) e a falta de tempo ou recursos (31%).
No campo regulatório, 91,5% das empresas se declaram confiantes no cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e 87% afirmam realizar auditorias regulares para garantir precisão e consistência das informações. Por outro lado, o uso disseminado de ferramentas paralelas e o tempo gasto em tarefas manuais de higienização de dados levantam dúvidas sobre a robustez da governança praticada.
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