A Geração Alfa entra na segunda metade da década consolidada como um grupo moldado pela convivência entre o digital e o presencial. Trata-se da primeira geração inteiramente documentada nas redes sociais desde o nascimento e criada em um período em que os jogos se tornaram parte da vida social, sem contar o advento da Inteligência Artificial.
Esse percurso ajuda a explicar por que seu comportamento segue um eixo figital: a valorização simultânea de experiências reais e virtuais. Embora tenham sido apelidados de “geração iPad” por terem passado a infância entre telas, sobretudo durante a pandemia, pesquisas mostram que eles preferem interações presenciais.
Nos Estados Unidos, um levantamento com jovens de 9 a 13 anos mostra que 67% priorizam comer com a família ou amigos a realizar refeições enquanto assistem TV ou navegam nas redes. Criatividade, humor e brincadeira aparecem como caminhos de conexão entre pares.
Este é o principal eixo de análise seguido pelo relatório “Prioridades da Geração Alfa 2026”, elaborado pela WGSN Insight. A publicação reúne tendências que orientam marcas, educadores e indústrias interessadas em compreender esse público. A projeção mais ampla indica que os Alfas devem se tornar a maior e mais diversa geração já registrada, com um poder de compra estimado em US$ 5,46 trilhões até 2029, segundo dados da McCrindle.
O material identifica seis áreas centrais de interesse: gastos, estilo de vida, educação, relacionamentos, identidade e bem-estar. Cada uma delas apresenta oportunidades para marcas que buscam acompanhar o comportamento desse grupo em formação.

Gastos: influência direta no consumo familiar
Mesmo jovens, os Alfas exercem influência concreta sobre decisões de compra dentro de casa. 66% deles preferem marcas que geram impacto positivo no mundo.Um adolescente típico gasta cerca de US$ 2.340,00 por ano — aproximadamente US$ 45 por semana — apenas com recursos próprios, segundo dados da DKC. Somado ao universo total da geração, o valor alcança cerca de US$ 50 bilhões anuais, de acordo com a Fast Company.
A WGSN sugere que as empresas tratem essa faixa etária como influenciadora das decisões familiares, desenvolvendo estratégias que considerem sua participação ativa no consumo.
Estilo de vida: humor e brincadeira como linguagem dominante
A cultura dos memes, o humor “brain-rot” e a criatividade irreverente funcionam como códigos de sociabilidade entre os Alfas. Segundo dados citados no relatório, 94% dos Zalfas — junção entre Gen Z e Alfa — nos EUA e no Reino Unido consomem conteúdo de mídia que os faça rir.
No cotidiano, 90% das crianças afirmam se sentir mais felizes quando brincam, conforme pesquisa da IKEA. A recomendação da WGSN é que marcas incorporem elementos lúdicos em comunicações, experiências de compra e ambientes educacionais. A criatividade também aparece como pilar relevante para os pais: 85% dos responsáveis nos EUA acreditam que essa habilidade será determinante para o destaque profissional no futuro.
Bem-estar: equilíbrio entre o digital e o presencial
A mesma geração que cresceu com tablets enfrenta movimentos globais que buscam limitar o acesso precoce às redes. A WGSN destaca que 65% das crianças de 8 a 10 anos passam até quatro horas por dia nas plataformas sociais, segundo o Morning Consult.
Para responder a essa realidade, as recomendações incluem criar mecanismos que estimulam pausas digitais, ampliar proteções dentro dos aplicativos e desenvolver programas de bem-estar que diminuam impactos como o cyberbullying. Nos Estados Unidos, seis em cada dez jovens de 12 a 14 anos afirmam ter sido orientados pelos pais sobre como cuidar da saúde mental, e reconhecem a importância de saber quando se desconectar.

Governos também começam a agir. A Noruega discute elevar a idade mínima de acesso às redes sociais de 13 para 15 anos, enquanto iniciativas como a expansão do programa Be Best, nos EUA, reforçam campanhas de uso consciente. Plataformas, como o Instagram, já implementam contas específicas para adolescentes, com modos de suspensão, alertas de tempo e configurações mais rígidas para menores de 16 anos.
O relatório também observa que 94% dos Alfas no mundo se enquadram como entusiastas de jogos, conforme dados da Newzoo — um cenário que amplia o potencial de marcas para construir mundos dedicados a esse público.
No Brasil, um estudo conduzido pela Secretaria de Educação do Rio de Janeiro apontou melhora na concentração, participação em sala e desempenho escolar após a proibição de celulares nas escolas em 2024.
Educação: preparo para um futuro incerto
A educação ocupa outro eixo central no relatório. A WGSN reforça que, diante da velocidade das transformações tecnológicas, preparar a Geração Alfa implica estimular curiosidade e autonomia intelectual. A recomendação é que ambientes de aprendizagem adotem abordagens mais lúdicas e conectadas aos interesses do público, integrando recursos interativos sem abrir mão de referências do mundo físico.
Relacionamentos: formar vínculos e criar novos espaços de convivência
As crianças e pré-adolescentes desse grupo demonstram forte interesse em construir amizades e aprofundar relações. O relatório recomenda que marcas e instituições criem “terceiros espaços” — ambientes fora de casa e da escola — que facilitem encontros e interações entre pares. A busca por amizade e por pertencimento aparece como um dos traços geracionais mais robustos.
Identidade: diversidade como valor estruturante
Considerada a geração mais diversa até agora, os Alfas valorizam representatividade e narrativas que celebrem diferenças culturais, étnicas e individuais. A WGSN recomenda que marcas adotem abordagens mais amplas de inclusão e construam produtos e histórias que reflitam a variedade de experiências, aparência e trajetórias presentes entre as crianças.
Um guia para a próxima década
As prioridades da Geração Alfa em 2026 formam um quadro em que tecnologia, bem-estar, criatividade e inclusão caminham juntos. Crescendo em meio a transformações sociais rápidas, esse grupo exige estratégias específicas, capazes de equilibrar segurança digital, estímulo à imaginação, vínculos afetivos e representatividade.
* Com informações da WGSN
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