<p class="titulomateria">Marca pr&oacute;pria: de oportunidade &agrave; estrat&eacute;gia de neg&oacute;cio</p> <p>Por Silvio Tanabe*</p> <p>O crescimento das marcas pr&oacute;prias bateu novo recorde no Brasil. Em 2008, o n&uacute;mero de lan&ccedil;amentos de produtos identificados com a bandeira de uma rede de varejo foi de 31%, de acordo com a Abmapro - Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Marcas Pr&oacute;prias. Esse placar favor&aacute;vel j&aacute; vem ocorrendo h&aacute; alguns anos e indica que o Brasil come&ccedil;a a se alinhar ao que acontece com o setor em escala mundial.</p> <p>Nos Estados Unidos, por exemplo, 41% dos consumidores compram com freq&uuml;&ecirc;ncia algum produto private label (tamb&eacute;m chamado store brand), movimentando anualmente US$ 65 bilh&otilde;es. Na Europa, um em cada tr&ecirc;s itens vendidos nas lojas &eacute; de marca pr&oacute;pria, sendo que a sua participa&ccedil;&atilde;o de mercado em rela&ccedil;&atilde;o &agrave;s marcas nacionais em pa&iacute;ses como Reino Unido, B&eacute;lgica e Alemanha chega a 40%.</p> <p>Este fen&ocirc;meno reflete na verdade duas grandes tend&ecirc;ncias. A primeira &eacute; a consolida&ccedil;&atilde;o do ponto-de-venda como influenciador das decis&otilde;es e do comportamento de compra dos consumidores. Comprova que, cada vez mais, o que &eacute; feito pelo varejista dentro e fora da loja no sentido de entender e atender &agrave;s necessidades de seus clientes (os shoppers) ter&aacute; impacto direto no desempenho de vendas.</p> <p>A segunda tend&ecirc;ncia, e a mais importante no contexto deste artigo, &eacute; de que o varejo brasileiro est&aacute; tomando consci&ecirc;ncia de que marca pr&oacute;pria n&atilde;o &eacute; apenas uma oportunidade e sim uma estrat&eacute;gia de neg&oacute;cio essencial para inovar, criar novos diferenciais e aumentar o &iacute;ndice de fidelidade dos consumidores. Neste aspecto, uma das maiores vantagens da marca pr&oacute;pria &eacute; a de atuar nos &ldquo;4 Ps&rdquo; do marketing. Alguns exemplos:<br />:: Produto: por meio de suas marcas, o varejo passa a ter controle no desenvolvimento de itens premium ou de custo-benef&iacute;cio, diferenciados e exclusivos em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; embalagem, sabores e vers&otilde;es. <br />:: Pre&ccedil;o: a marca pr&oacute;pria pode ser usada como refer&ecirc;ncia para combater a concorr&ecirc;ncia ou, ao contr&aacute;rio, garantir as margens que as marcas dos fabricantes n&atilde;o conseguem oferecer.<br />:: Promo&ccedil;&atilde;o: o produto de marca pr&oacute;pria passa a ser um dos pontos de contato com o cliente mais importantes, pois, al&eacute;m de comprar, o cliente vai literalmente consumir a marca do varejista. O n&iacute;vel de satisfa&ccedil;&atilde;o desta experi&ecirc;ncia, portanto, deve estar de acordo com a imagem e as mensagens que o varejo transmite. <br />:: Ponto-de-Venda: o varejista pode desenvolver produtos de marca pr&oacute;pria para atender necessidades do consumidor de uma determinada regi&atilde;o, com caracter&iacute;sticas, pre&ccedil;o e promo&ccedil;&atilde;o espec&iacute;ficos.</p> <p>Uma das empresas que melhor explora o conceito em todo o seu potencial &eacute; a rede de supermercados Sainsbury&rsquo;s, do Reino Unido. A empresa soube como ningu&eacute;m desenvolver uma estrat&eacute;gia de marca pr&oacute;pria para consolidar a imagem da rede por meio de produtos e servi&ccedil;os inovadores. O &uacute;ltimo exemplo foi o lan&ccedil;amento da linha Sainsbury&rsquo;s Taste The Difference, composta por 500 itens de alimentos livres de gordura hidrogenada e sabores artificiais. Os produtos foram calorosamente recebidos pelos consumidores e as vendas aumentaram em 20%.</p> <p>J&aacute; a Tesco explora a store brand para criar envolvimento com os consumidores. A empresa patrocina um programa de reality show na TV inglesa em que cozinheiros amadores competem para produzir o melhor prato. Todos os ingredientes, &eacute; claro, s&atilde;o da marca pr&oacute;pria Tesco. Na Fran&ccedil;a, a Auchan lan&ccedil;ou a marca Baby Auchan de produtos infantis de olho no p&uacute;blico composto pelos pais de primeira viagem, que comprovadamente gastam mais em suas compras por causa dos filhos. Nos EUA, a maior rede de varejo do mundo, o Wal-Mart, contratou uma premiada ag&ecirc;ncia de design para criar embalagens diferenciadas e aumentar o valor agregado de v&aacute;rios segmentos de produtos de sua marca pr&oacute;pria.&nbsp;</p> <p>A valoriza&ccedil;&atilde;o das private labels por parte do varejo n&atilde;o &eacute; um tiro no p&eacute; dos fabricantes, como julgam muitos cr&iacute;ticos. Pelo contr&aacute;rio, &eacute; uma oportunidade para os fornecedores aumentarem a sua participa&ccedil;&atilde;o no mercado, conhecer mais sobre as necessidades dos consumidores e aprofundar o relacionamento com os clientes do varejo, por meio da pesquisa e desenvolvimento de produtos em conjunto. Um desafio atual do varejo e que depende da parceria com os fornecedores &eacute; em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; sustentabilidade, ou seja, o de desenvolver produtos que, al&eacute;m de diferenciados, estejam alinhados com o comprometimento das empresas em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; preserva&ccedil;&atilde;o do meio ambiente e &agrave; responsabilidade social.</p> <p>Em vez de amea&ccedil;a &agrave;s marcas dos fabricantes, principalmente as nacionais, o crescimento das marcas pr&oacute;prias deve ser visto como um est&iacute;mulo para os fornecedores inovarem de verdade, criando novos conceitos para suas marcas e investindo, sobretudo, em diferenciais intang&iacute;veis, como a capacidade de se identificar e se relacionar de acordo com as prefer&ecirc;ncias, h&aacute;bitos e atitudes de seu p&uacute;blico-alvo.</p> <p>Seja por uma marca pr&oacute;pria ou pela marca nacional de um grande fabricante, o grande beneficiado de toda essa revolu&ccedil;&atilde;o &eacute; o consumidor.&nbsp;&nbsp;</p> <p>* Silvio Tanabe &eacute; jornalista especializado na &aacute;rea de varejo e diretor da Vers&aacute;til Comunica&ccedil;&atilde;o Estrat&eacute;gica.</p>
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