<p>Por Paulo Vieira de Castro*</p> <p>Em tempo de crise a criatividade parece estar do lado dos mais desfavorecidos. O que poder&atilde;o os administradores de empresas aprender com aqueles que vivem literalmente na rua? Como poder&atilde;o os sem teto inspirar a lideran&ccedil;a nas organiza&ccedil;&otilde;es?</p> <p>Confira aqui o clip televisivo sobre este estudo</p> <p><object width="425" height="344"> <param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/hiOsFn1gQSs&amp;hl=pt-br&amp;fs=1" /> <param name="allowFullScreen" value="true" /> <param name="allowscriptaccess" value="always" /><embed width="425" height="344" src="http://www.youtube.com/v/hiOsFn1gQSs&amp;hl=pt-br&amp;fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true"></embed></object></p> <p><strong>Primeira li&ccedil;&atilde;o: voc&ecirc; vive do que recebe, mas constr&oacute;i a vida com o que d&aacute;</strong><br /> Apesar do arrebatador avan&ccedil;o da economia contra intuitiva, em especial nas &uacute;ltimas duas d&eacute;cadas, haver&aacute; na l&oacute;gica desta nova economia com um envolvimento preferencial e complementar com crit&eacute;rios que escapam ao entendimento normativo, isto porque estamos perante vari&aacute;veis meramente auto-referentes do ser humano.</p> <p>Perspectivando uma nova economia solid&aacute;ria, no seu &uacute;ltimo livro &ldquo;DAR&rdquo;, Bill Clinton reformula o sentido do ato, atrav&eacute;s de um olhar inspirador na forma como cada um de n&oacute;s poder&aacute; mudar o mundo. H&aacute; algo que eu confirmei na rua; tudo o que dei &eacute; meu, tudo o que dei cont&iacute;nua comigo. Assim, no final, tudo o que restar&aacute; ser&aacute; o que compartilhei. Manterei este mesmo sentimento relativamente ao que simplesmente comprei ou vendi? Para que isso aconte&ccedil;a talvez seja necess&aacute;rio &agrave;s empresas uma nova transpar&ecirc;ncia de prop&oacute;sitos, novos valores, um novo enfoque relacional. Refiro-me &agrave; cria&ccedil;&atilde;o de comunidades de proximidade real.</p> <p>Ser&aacute; previs&iacute;vel um crescimento de mercado no que &agrave; solidariedade diz respeito. Para al&eacute;m de assegurar a sobreviv&ecirc;ncia b&aacute;sica dos mais necessitados, surgir&atilde;o novas responsabilidades. Desde logo dar a si mesmo, ou &agrave; sua fonte de inspira&ccedil;&atilde;o, abrindo caminho a um maior compromisso com a espiritualidade, na senda de modelos de aplica&ccedil;&atilde;o n&atilde;o perif&eacute;rica &agrave; responsabilidade de se ser humano, passando a cumprir compromissos estrat&eacute;gicos baseados em valores essenciais &agrave; solidariedade, &agrave; responsabilidade inclusiva, &agrave; compaix&atilde;o, &agrave; espiritualidade, ao estar grato, &agrave; paz interior. Esta ser&aacute; a oportunidade que faltava para o surgimento de uma nova economia.</p> <p><strong>Segunda li&ccedil;&atilde;o: no futuro a economia ser&aacute; interdependente </strong><br /> Na rua a economia de parceria parece n&atilde;o resultar, isto ao contr&aacute;rio do conceito de interdepend&ecirc;ncia. Acredito que no futuro o sucesso das grandes corpora&ccedil;&otilde;es depender&aacute; desse entendimento. Ali&aacute;s, a internet &eacute; j&aacute; um bom exemplo disso, nos casos em que prova ser poss&iacute;vel divergir dos princ&iacute;pios meramente capitalistas, onde existe exclusivamente uma partilha de meios, mas raramente de fins. Assim como na rua, nos neg&oacute;cios, esta ideia implica que todos s&atilde;o, contemporaneamente, a um mesmo momento provedores e tomadores, clientes e fornecedores. Isto &eacute; j&aacute; o que acontece com alguns neg&oacute;cios na internet.</p> <p>Esta vis&atilde;o de futuro para as rela&ccedil;&otilde;es empresariais antecipa o aparecimento de um novo conceito de economia relacional, surgindo a economia interdependente. Nas estrat&eacute;gias solid&aacute;rias &eacute; isso mesmo que acontece: aqui tamb&eacute;m se d&aacute; e recebe o maior dos bens, o afeto inclusivo, a confian&ccedil;a m&uacute;tua, afetuosa e permanente, a seguran&ccedil;a capaz de granjear a paz interior. O aspecto verdadeiramente inovador &eacute; que todos ganham nesta rela&ccedil;&atilde;o, e n&atilde;o exclusivamente os diretamente envolvidos. A matem&aacute;tica, a qu&iacute;mica e a f&iacute;sica h&aacute; muitas d&eacute;cadas que conseguiram provar que na natureza tudo est&aacute; interligado; interdependente. Como poderiam as rela&ccedil;&otilde;es humanas escapar a esta realidade?</p> <p>Para a gest&atilde;o isto significar&aacute; a passagem das parcerias estrat&eacute;gicas para a funda&ccedil;&atilde;o de uma economia de comunidades, onde cada um contribui individualmente, n&atilde;o competindo, n&atilde;o cooperando, mas sim &ldquo;inter-dependendo&rdquo;.</p> <p>Para entender de forma completa a ideia da interdepend&ecirc;ncia nos neg&oacute;cios o ser humano ter&aacute; de voltar &agrave; fonte, ao sopro vital, indo al&eacute;m do autoconhecimento, ou seja &agrave; auto-realiza&ccedil;&atilde;o.</p> <p><strong>Terceira li&ccedil;&atilde;o: ser o exemplo que queremos ver nos outros</strong><br /> Apesar de se tratar de uma vis&atilde;o meramente pessoal, acredito que todos teremos a agradecer o fato de poder dar o melhor de n&oacute;s pr&oacute;prios. Mas, quantos de n&oacute;s estamos dispostos a isso?! Uma nova consci&ecirc;ncia para o mundo dos neg&oacute;cios ter&aacute;, necessariamente, que passar pela responsabilidade de, como diria Ghandi, sermos o exemplo que queremos ver nos outros. Mais uma vez dar, neste caso dar o exemplo.</p> <p>Todos pretendemos vencer. Para os que est&atilde;o na rua isso significar&aacute; sempre, quanto a mim, a vit&oacute;ria sobre si mesmo. Este &eacute;, igualmente, um desafio para o qual muitos dos nossos administradores de empresas n&atilde;o est&atilde;o, ainda, preparados.</p> <p>Na rua muitos foram os que deixaram de querer estar certos para passar a querer &ndash; simplesmente - estar em paz.. Neste contexto o que ser&aacute; para a economia mudar de perspectiva? Simples; porque n&atilde;o deixar de pensar tanto no fim do m&ecirc;s e pensar mais no fim do mundo?</p> <p><strong>Quarta li&ccedil;&atilde;o: o centro vital do Homem estar&aacute; na auto-realiza&ccedil;&atilde;o<br /> </strong>Fernando Pessoa dizia que conhecer &eacute; como nunca ter visto pela primeira vez; e isso &eacute; certo. Ao contr&aacute;rio da ideia avan&ccedil;ada pela sociedade do conhecimento, onde se mostrava central conhecer, a proposta agora ser&aacute; a de auto-realizar. Uma outra mudan&ccedil;a que parece irrevers&iacute;vel &eacute; a que concerne &agrave; medida da satisfa&ccedil;&atilde;o, passando esta a ser calculada na economia interdependente, fundamentalmente, com base em n&iacute;veis de auto-realiza&ccedil;&atilde;o de todas as partes da rela&ccedil;&atilde;o. O investimento ser&aacute; sempre na rela&ccedil;&atilde;o.</p> <p><strong>Quinta li&ccedil;&atilde;o: a economia n&atilde;o ter&aacute; de ser sustent&aacute;vel, mas sim inclusiva</strong><br /> A realidade que se vive na rua fez-me perspectivar, ainda, o pr&oacute;ximo passo, uma nova doutrina econ&oacute;mica aparentada a um entrepreneurial capitalism elevado ao seu expoente m&aacute;ximo de responsabilidade inclusiva, onde assim como na natureza, tamb&eacute;m na economia assistiremos ao retorno &agrave; natural evolu&ccedil;&atilde;o criativa, em que encontraremos &ldquo;todos&rdquo; que s&atilde;o maiores do que a soma das suas partes. Para al&eacute;m de jogarmos com ideia de interdepend&ecirc;ncia, passaremos a reconhecer no fator imperman&ecirc;ncia uma vari&aacute;vel estrat&eacute;gica de oportunidade, cabendo &agrave; gest&atilde;o de topo potenci&aacute;-la, ao inv&eacute;s de a tentar isolar, como se de uma bact&eacute;ria nociva se tratasse. A mudan&ccedil;a &eacute; - afinal - o maior bem de todos os homens e mulheres.</p> <p><strong>Sexta li&ccedil;&atilde;o: a nova l&oacute;gica de se ser humano</strong><br /> N&atilde;o ser&aacute; suficiente conhecer a responsabilidade como caminho para um mundo mais justo. Lembre-se que conhecer o caminho n&atilde;o &eacute; a mesma coisa que trilh&aacute;-lo at&eacute; ao seu termo. Garanto-lhe que h&aacute; algu&eacute;m muito especial que o espera no final do caminho: voc&ecirc;!</p> <p>Na dimens&atilde;o dos valores humanos n&atilde;o existe a verdade dos outros. Viver nesta certeza ser&aacute; assumir a maior responsabilidade das nossas vidas. Aceitar a import&acirc;ncia de tais valores nas rela&ccedil;&otilde;es de mercado, obriga a que cada um de n&oacute;s seja um cientista interior, cuja sua maior val&ecirc;ncia ser&aacute; a de experimentar a verdade e, consequentemente, estar dispon&iacute;vel a aceitar a mudan&ccedil;a como a &uacute;nica certeza. A verdade, desde a sua origem, revela-nos o ponto onde nada est&aacute; escondido, onde s&oacute; a profundidade do essencial ser&aacute; revelado. Ent&atilde;o, seja voc&ecirc; mesmo!</p> <p><strong>S&eacute;tima li&ccedil;&atilde;o: o dinheiro &eacute; uma n&atilde;o realidade</strong><br /> Ningu&eacute;m &eacute; v&iacute;tima do mundo, mas sim da forma como o percebe. Nas organiza&ccedil;&otilde;es passa-se exactamente o mesmo. Se eu tiver vinte e cinco milh&otilde;es de reais, o modo como os uso determina o seu verdadeiro valor. Na verdade o valor do dinheiro depende diretamente da capacidade que cada um tem de o aplicar de forma &uacute;til. Mas, qual &eacute; o aut&ecirc;ntico valor do dinheiro para quem vive na rua? Estimo que um real&nbsp; possa valer duas a tr&ecirc;s vezes mais para um sem teto que para um elemento da classe m&eacute;dia. Surpreendidos?</p> <p><strong>Oitava li&ccedil;&atilde;o: s&oacute; aquele que v&ecirc; o invis&iacute;vel poder&aacute; realizar o imposs&iacute;vel</strong><br /> O mundo vai de forma a declarar uma not&oacute;ria impot&ecirc;ncia da economia quando a colocamos em contraponto com a felicidade real. Perante uma humanidade que se debate entre os anseios de uma nova consci&ecirc;ncia nos neg&oacute;cios e uma busca individual por um sentido mais amplo para a sua exist&ecirc;ncia, confrontamo-nos com novos ideais enraizados no mais elevado patamar da &eacute;tica empresarial, a espiritualidade. S&oacute; esta parece ser capaz de despertar o princ&iacute;pio organizador, totalizador, integrador de todas as potencialidades humanas. Como poderia ser diferente nas rela&ccedil;&otilde;es de mercado?</p> <p><strong>Nona li&ccedil;&atilde;o: a inspira&ccedil;&atilde;o transformadora &eacute; o &uacute;nico recurso infinito da Terra</strong><br /> Tudo na vida &eacute; uma doce responsabilidade, n&atilde;o um mero jogo de sorte ou azar. Este &eacute; um entendimento que, desde meados dos anos oitenta, assiste &agrave; figura do Gestor Servidor, tamb&eacute;m conhecido por Gestor ao Servi&ccedil;o. A revolu&ccedil;&atilde;o organizacional depender&aacute; da assun&ccedil;&atilde;o de todos os seus elementos enquanto agentes de mobiliza&ccedil;&atilde;o.</p> <p>O que falta ent&atilde;o para romper com algumas das nossas rotinas? Acreditar que, para al&eacute;m de desej&aacute;vel, &eacute; poss&iacute;vel. Seguindo a m&aacute;xima de S&atilde;o Francisco de Assis, deveremos come&ccedil;ar por fazer o que &eacute; necess&aacute;rio; depois fazer o poss&iacute;vel; e, sem dar por isso, estaremos a fazer o imposs&iacute;vel. Parece simples!</p> <p><strong>D&eacute;cima li&ccedil;&atilde;o: aprender mais com a natureza, e menos com a civiliza&ccedil;&atilde;o</strong><br /> O que parece estar a mudar &eacute; a rela&ccedil;&atilde;o entre economia e felicidade. Como resposta a esta oportunidade encontramos, agora, formas mais criativas de enfrentar o mercado, resultando desta constata&ccedil;&atilde;o o atendimento a novas propostas de valor. Na rua vemos isso claramente.</p> <p>Parece um contra-senso, mas n&atilde;o o ser&aacute; se repensarmos o sentido do que &eacute; verdadeiramente importante para a vida humana. Cada vez precisamos mais de nos manter pr&oacute;speros, mas ao mesmo tempo &ndash; naturalmente - prestativos, isto de forma inclusiva, sem receios ou ressentimentos, pelo que daremos, incondicionalmente a nossa inspira&ccedil;&atilde;o, o nosso tempo, o nosso talento, etc. Essa &eacute; a verdadeira natureza do ser humano.</p> <p>Est&aacute; lan&ccedil;ado o pr&oacute;ximo desafio que se coloca aos criativos das nossas organiza&ccedil;&otilde;es: vender o que &eacute; gr&aacute;tis!</p> <p>* Paulo Vieira de Castro &eacute; Consultor de Empresas, Director do Centro de Estudos Aplicados em Marketing, Instituto Superior de Administra&ccedil;&atilde;o e Gest&atilde;o, do Porto - Portugal. Contato: <a href="mailto:geral@paulovieiradecastro.com">geral@paulovieiradecastro.com</a></p>
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